segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Porta Aberta



Existe uma fronteira que me marca, machuca
Entre os dias que já foram e os dias que virão
Há uma esperança na vida curta de uma rosa que foi cortada
Que se espera bonita, que áspera se faz ao passar dos dias
Noites em guarda no sereno de um calor imenso, ameno, feroz
Por todos nós que aqui estamos e os outros que nunca estarão
Não há nada que volte ou simplesmente recupere
O sangue que se estancou não coagula, se vai
Como as águas desse rio que nunca chegam sem ir e ir novamente
Rezo pelos quatro cantos da casa esperando sua entrada
E não choro quando não a vejo de verde ou de qualquer cor
Não há remédios que amenizem quaisquer dores
Não há sedativos que me façam esperar a cura que não vem
A porta sempre entre aberta e a boca semi-fechada
Nada vem tão gratuito que não se molhe com a chuva
Tão fortuito que não se mate ao ver o que não se mede
Ao medir o que não se vê, nem se toca, nem se espanta
Paralela ao meu desejo jaz uma fome imensa
De imersa saudade que não se compõe e não se dispersa
Nada é dito, nada é falado, nada é dado ou...
E ainda só resta pegar o caminho
Ter nele o que me resta de estrada
Entrar na casa dos fantasmas de outrora agora
Quanto mais faltas fazes mais poesia se multiplica
Pelas veias velhas e frias da distância que ninguém ata
Uma, duas e várias noites em silêncio profundo
Que poderiam desnortear um norte inteiro
Onde esperar é ouro, encontrar é prata, sentir é tudo que nos resta
E a porta que deveria ser de entrada é de fuga alucinada
Alguém foge em silêncio mais que profundo
Que até um grito imundo haveria de calar-se pra ouvir
Os dias se vão inteiros e a porta continua aberta
Valha-me Deus um vento forte para fechá-la por inteiro
Valha-me senhor um desenho pra calar-me sorrateiramente
Que contenha mapas dos desencontros que Sabino não sabia
Que Pessoa não pensava acontecer
Depois dos montes e vales que aqui nos separam
Há vida imaginada andando pelas ruas quentes e frias de um nome
Que não sai da boca-mente-olhos, um escândalo calmo e sereno
Pequeno me vejo, calado e um som de alerta me distrai
É o som da porta se abrindo, gente indo e vindo
Nada tão quente que não seja o suficiente
E tão frio que não se degele simples e mórbido no ventre de quem grita
Não é preciso um aviso
O tempo vai, vem, sempre tem ido
Quando você volta, amor meu perdido?
Quando te perco de novo nas minhas linhas, infindáveis linhas?
Que descansam silenciosamente achando que a porta se abriu
E resignadas se calam no calor do não encontro.

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